Criando filhos confiantes e independentes

Viver no século XXI significa muitas vezes estar imerso em uma sociedade que cada vez mais nos traz incertezas e, consequentemente, faz que nos sintamos mais ansiosos. Que tudo muda o tempo todo no mundo, como diria a canção de Lulu Santos, já não é novidade para ninguém!   Criar filhos em uma era de impermanências tão constantes parece ser uma luta diária, sobre a qual a certeza da vitória pode nos causar ainda mais ansiedade.

Hoje estou aqui para compartilhar com a comunidade de famílias da Pongo Education os aprendizados que obtive a partir do conhecimento de um método chamado “Scaffold Parenting”, cuja tradução literal significa: Parentalidade Andaime. Talvez neste momento você já esteja pensando, mais um método para criar filhos… e isso pode parecer como mais uma fórmula mágica! Então eu sugiro uma respiração bem profunda e, a partir daí, eu lhe garanto que sim, quanto mais ferramentas positivas tivermos para agir em situações adversas, nesta longa jornada de criação dos nossos filhos, mais harmoniosa esta relação poderá ser, e, com certeza, este é um grande investimento de tempo e paciência!

Vamos voltar então ao tal de “Sca” alguma coisa. Todos aqui já devem ter visto uma construção. Muitas vezes durante esta obra precisamos chegar a determinados pontos que não alcançamos, então, é necessário montar uma estrutura que seja firme, resiliente e segura para que o trabalho seja executado com excelência! É neste momento que o andaime é uma peça fundamental, certo? 

A metáfora do “andaime” na educação dos nossos filhos pode ser considerada como uma ferramenta, que será utilizada para auxiliar nossas crianças a aprenderem novas estratégias, além do conhecimento que elas já trazem. 

O método foi desenvolvido por Harold S. Koplewicz, presidente e fundador do Child Mind Institute, uma organização não governamental, com sede em Nova York, Estados Unidos, hoje considerado um dos principais psiquiatras de crianças e adolescentes daquele país. 

De acordo com Harold, quando os filhos são pequenos, o papel dos pais é fundamentalmente proteger e reparar. Constantemente, pais devem estar atentos aos perigos que os ambientes oferecem, desde uma escada, até o interruptor da tomada. Os pais também são os responsáveis por organizar a vida social desta criança, desde levar a festinhas de aniversário, como ao médico, e assim por diante… Nesse caso, pode-se dizer que as crianças precisam de um secretário que seja integralmente responsável por todas as suas demandas. 

Em algum momento, sem aviso prévio, pais que antes conseguiam consertar tudo, já não são capazes de evitar algumas situações do cotidiano, como por exemplo, um menino de oito anos que está com dificuldades na aula de matemática e começa a achar que não é inteligente o suficiente, ou ainda, que tenha desafios em relacionar-se com os colegas da escola. Assim, os pais precisam assumir o papel de consultores para que a criança seja capaz de encontrar uma solução por si mesma. 

Acontece que muitos pais têm uma grande dificuldade em perceber que o seu papel mudou e, consequentemente, as ações também precisam ser modificadas: não se pode mais simplesmente consertar uma situação, agora é necessário entregar a estas crianças diversas ferramentas que possibilitem uma caminhada mais independente rumo a suas próprias conquistas.

Pais que costumam sempre dizer à criança o que ela deveria ou não fazer, estão impossibilitando que seus filhos tomem suas próprias decisões. 

Vamos então a exemplos práticos!

Sua filha foi excluída do grupo de colegas do qual sempre fez parte; você imediatamente liga para outras mães para saber o que aconteceu, ou começa a sugerir comportamentos. Pais que têm o perfil de “consertadores”, utilizam muito o termo: você deveria isto ou aquilo! Aparentemente esta atitude por parte dos pais é inofensiva, mas atente-se que, ao escolher o que seu filho deveria fazer, você está tirando dele a oportunidade de aprender a se defender em situações desafiadoras, o que pode vir a gerar ainda mais sofrimento na vida adulta.

No método sugerido por Harold, pais precisam incentivar e dar suporte para que seus filhos tenham a oportunidade de escolher qual ferramenta irão utilizar em determinada situação, e, certamente, a escolha (ainda que errada) faz parte desse aprendizado. Nesse momento é determinante o apoio, com questionamentos que levem à reflexão, pois a ideia não é simplesmente largar a criança por si mesma, e sim, guiá-la de forma mais assertiva. 

Acredito que tudo o que foi dito, de certa forma não é novo para muitos que estão fazendo esta leitura, mas garanto que entre o saber como devemos agir e o realmente agir no momento oportuno é o que faz de um conhecimento algo significativo para a vida!

Harold, então, traz alguns pontos relevantes a serem observados, como por exemplo, a “Zona de Crescimento”, ou seja, a criança, assim como o adulto, apresenta determinados estados psicológicos e, no dia a dia, cabe aos pais estarem atentos aos estados seguros, ou aos que alertem sobre algum perigo.

Provavelmente você já ouviu falar em “Zona de Conforto”. Quando a criança encontra-se neste estado, ela se sente segura e autossuficiente, e consegue realizar suas atividades sem auxílio dos pais ou professores, por exemplo. Estar nesse estado psicológico é importante, porém, sabe-se que, para que novos aprendizados aconteçam , muitas vezes é inevitável sentir o stress e a ansiedade do que está por vir! Os pais precisam então contribuir com as crianças na compreensão de que esse estado causador de caos é parte fundamental do processo para que se alcance a Zona de Crescimento, ou seja, novos aprendizados.

Então você deve estar se perguntando como fazer para sair da Zona de Conforto, que, apesar de aparentemente segura, não gera novos aprendizados, não auxilia no desenvolvimento de novas habilidades. Vigotsky, psicólogo russo, ao falar do desenvolvimento infantil, sugeria que os estímulos tanto vindo dos educadores quanto dos pais deveria vir da chamada Zona Proximal, ou seja, algo que a criança ainda não saiba fazer -e isso também diz respeito a educação emocional- mas que exija dela um esforço possível, para que consiga subir um pouquinho mais ao encontro da solução, que sim, irá gerar stress e ansiedade, mas ela conseguirá realizar.

Mesmo utilizando-se das estratégias (ou utilizando as estratégias) sugeridas até agora, é inevitável dizer que o fracasso também fará parte do crescimento e desenvolvimento de nossas crianças. Enquanto pais, devemos apoiar e elogiar as tentativas e deixar claro que sucesso e fracasso nada mais são do que lados de uma mesma moeda. 

Deixe um comentário