Os primeiros sinais sobre desafios de aprendizagem

Resumo:

Mantenha em mente que entender quando é necessário se preocupar com o desenvolvimento da aprendizagem de nossas crianças é de muita valia, pois os estímulos e intervenções corretos, na janela de aprendizagem adequada, podem ser extremamente benéficos para o bem estar e autoconfiança da criança. 

O que você irá aprender:

  • Tipos de transtornos de aprendizagem
  • Diferença entre transtornos e dificuldades de aprendizagem
  • Outros fatores que também afetam a aprendizagem
  • Passo a passo para iniciar uma investigação
  • Atividades de estímulos que a criança pode fazer em casa

 Queridas famílias,

Antes de iniciar esta conversa, vou compartilhar com vocês uma experiência como mãe e pesquisadora. Aqui iremos falar do nosso bem mais precioso, que são nossos filhos, sendo assim, primeiramente sintam-se acolhidos.

Certa vez fui chamada na escola do meu filho para uma reunião de rotina com a professora, na época ele tinha 4 anos de idade. Meu filho, desde muito pequeno, apresentava uma habilidade incrível de se relacionar; ir para escola era sempre um momento de alegria. Neste dia em especial, a professora trouxe algumas questões que ela vinha observando em sala de aula durante as atividades propostas, e a minha resposta para ela foi: ele ainda é muito pequeno, está aprendendo. 

No ano seguinte, meu filho continuou com a mesma professora e, mais uma vez, ela sugeriu que fosse feita uma investigação, pois percebia, por exemplo, que ele não conseguia amarrar o tênis, fazia muito esforço para segurar o lápis… Novamente eu disse: ele ainda é muito pequeno, está aprendendo. 

Passou mais um ano letivo, meu filho estava com aproximadamente 7 anos. Novamente fui à escola, e outra professora deixou claro que ele deveria estar alfabetizado, e que as habilidades que já deveria ter desenvolvido com a idade estavam muito aquém do esperado. Fiquei totalmente desnorteada, era uma sensação de frustração e também de culpa, pois não dera a devida importância quando fui alertada pela primeira vez. Neste dia, procurei a professora anterior e comentei o que havia acontecido e ela foi enfática em dizer: procure ajuda, pois ele vai reprovar de ano!

Meu mundo desabou naquele momento, como uma criança tão feliz e capaz estava recebendo uma negativa desta imensidão na segunda semana de aula? E foi a partir deste momento que vários questionamentos começaram a emergir, principalmente porque eu acredito que “reprovar de ano”, definitivamente não define a criança que temos em casa, no entanto, sabe-se que grandes descobertas em relação às habilidades de nossos filhos acontecem a partir da observação. Qualquer laudo ou diagnóstico não pode deixar de passar pelo crivo da investigação e observação familiar.

É inerente ao ser humano o julgamento, muito provavelmente você esteja pensando agora. Ah, mas a escola avisou! O que posso dizer: é tão difícil e mexe com tantos sentimentos encarar que a pessoa mais importante na nossa vida tem algum tipo de dificuldade, que a negação é o primeiro comportamento. Ao mesmo tempo, hoje eu entendo que quanto mais falarmos e compreendermos sobre o assunto, menor o monstro vai ficando, e o nosso olhar começa a mirar nos talentos e forças da nossa criança.

Vamos lá?

Mantenha em mente que entender quando é necessário se preocupar com o desenvolvimento da aprendizagem de nossas crianças é de muita valia, pois os estímulos e intervenções corretos, na janela de aprendizagem adequada, podem ser extremamente benéficos para o bem estar e autoconfiança da criança. 

O que é um transtorno de aprendizagem?

Primeiramente, sobre o termo transtorno de aprendizagem é interessante saber que ele funciona como um guarda- chuva. Veja a imagem a seguir:

Fonte: Instituto abcd

Os transtornos mencionados acima são muito comuns em relação à aprendizagem, mas ainda é necessário considerar tantas outras possibilidades.

Conheça outras possibilidades que podem afetar a aprendizagem.

Transtornos do neurodesenvolvimento:

  • Deficiência Intelectual (DI)
  • Transtornos do Espectro Autista
  • Transtornos da fala
  • Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)

      Outras questões como: 

  • Emocionais
  • Processamento Auditivo (PAC)
  • Processamento Visual
  • Alterações das funções executivas
  • Dispraxia e disgrafia, que tem a ver com transtorno da coordenação motora

E além de tudo o que foi citado, ainda temos questões culturais e socioeconômicas, que podem influenciar no desenvolvimento da aprendizagem.

É essencial saber diferenciar uma dificuldade de aprendizagem de um transtorno específico na aprendizagem. As palavras chaves aqui são, dificuldades são passageiras, e os transtornos são persistentes. As dificuldades podem ter a ver com questões emocionais, por exemplo, enquanto os transtornos têm a ver com o desenvolvimento neurológico, é uma condição fisiológica e afeta, por exemplo, o processamento de informações.

Existe um parâmetro para que um laudo seja o mais correto possível, chamamos este indicador de lacuna, quer dizer, o que se espera que uma criança faça e o que ela realmente faz. Por exemplo, uma criança que consegue acompanhar os colegas na matemática, mas não consegue na leitura. 

Alguns transtornos, como o autismo, na maioria das vezes são detectados logo na primeira infância, porém, outros transtornos específicos da aprendizagem só ficam claros quando a criança é mais velha, normalmente no início do fundamental I, ou seja, a partir dos 6, 7 anos de idade.

Vale lembrar que, na primeira infância, as aprendizagens ocorrem em velocidades diferentes, principalmente se compararmos uma criança que é muito estimulada em relação a outra que não é. Com o amadurecimento, algumas habilidades começam a se destacar, certas crianças apresentam mais facilidade na leitura, outras na matemática e existe um momento em que as habilidades se equilibram.

Para algumas crianças, no entanto, alguns sinais ainda na primeira infância podem ajudar a identificar futuras dificuldades acadêmicas, e é neste momento que o papel da observação familiar é essencial.

Vamos observar?

  • Dificuldade na coordenação motora fina, por exemplo, dificuldade para segurar tesouras, desenhar formas, amarrar o cadarço. 
  • Dificuldades de linguagem, como por exemplo, compreender rimas em brincadeiras e jogos, dificuldade em identificar os sons de animais, compreender o que é dito, expressar suas vontades com a fala, podem ser sinais de que existe algum distúrbio. 
  • Compreensão matemática, colocar objetos em ordem, conceito de adição quando a criança estiver com 6, 7 anos de idade.
  • Dicas de comportamento, quando a criança sente-se várias vezes frustrada em relação a uma atividade como desenhar formas, montar blocos e isto a leva a não querer brincar, por exemplo. Tente responder Por que é difícil? Porque ela não tem, ou não desenvolveu a habilidade necessária para esta atividade, ou é porque ela não consegue manter o foco na atividade.
  • Dicas de comportamento, em relação ao TDAH, apesar deste transtorno ser comportamental, ele influencia diretamente na forma como a criança aprende. Não é possível diagnosticar uma criança de dois anos com TDAH, mas é possível observar o quanto ela ouve uma história, se ela não pára um minuto sequer, se tem dificuldades para dormir, por exemplo.

O que os pais devem fazer

Quando crianças pequenas apresentam alguma dificuldade específica em relação à linguagem receptiva ou expressiva, ou seja, não compreende o entendimento da entonação, da melodia da voz do outro durante a fala e do significado das palavras em seus diferentes contextos. Muito antes de começar a falar, a criança está habilitada a usar o olhar, a expressão facial e o gesto para comunicar-se com os outros, ou coordenação motora fina, é possível buscar auxílio de um profissional chamado Terapeuta Ocupacional. Esse profissional auxiliará a criança a tonificar a musculatura necessária para aperfeiçoar a pegada em objetos como lápis, tesoura, pincel; ou na coordenação de ações com as mãos e olhos, e neste caso, o profissional chamado de Optometrista também pode ajudar. O Terapeuta Ocupacional também auxilia as crianças a se auto regularem quanto às habilidades sociais e emocionais. 

Caso a família perceba desafios na fala, por exemplo, a criança fala muito pouco ou apresenta um repertório muito inferior ao que se é esperado para idade, primeiramente procure o auxílio do pediatra que cuida da saúde da criança, é muito importante ressalvar que qualquer observação feita pela família ou escola é somente o início da investigação. 

O primeiro profissional a ser procurado é o da SAÚDE, ou seja, o pediatra, para que a funcionalidade do organismo da criança seja verificada.

Talvez neste momento você esteja se perguntando qual é o passo a passo a ser seguido, pois muitas vezes percebo que as famílias se perdem com tantas possibilidades de tratamento.

Então vamos lá!

Passo 1- A escola ou família observa que algo no desenvolvimento da criança não está compatível com o esperado para idade.

Passo 2 – Busque o profissional da saúde: pediatra

Passo 3- Caso o pediatra perceba alguma alteração que precise ser investigada, procure o neuropediatra ou foniatra, que solicitará alguns exames e encaminhará a criança para as terapias adequadas.

Gosto de alertar as famílias para uma questão um tanto desagradável. Profissionais da saúde podem se equivocar, portanto, qualquer laudo ou diagnóstico definitivo não acontecerá na primeira infância, no entanto quando a criança apresenta dificuldades na fala, na coordenação motora e desafios sociais ao mesmo tempo, é necessário começar uma investigação rapidamente. 

Tratamentos terapêuticos de estímulos a transtornos ou dificuldades de aprendizagem serão sempre MULTIDISCIPLINARES, ou seja, a criança é avaliada por mais de um profissional.

O que a família pode fazer em casa?

Qualquer criança precisa ser estimulada em casa e não somente no ambiente escolar. Algumas atividades muito simples podem ajudar no desenvolvimento de habilidades.

– Contar histórias com entonação, a criança é capaz de compreender uma história acompanhada de sons, gestos, movimentos e olhares, pois desta forma são capazes de imaginar cenários, personagens.

– Ter acesso a livros;

– Ter acesso a blocos;

– Contar números, objetos aleatórios.

– Dançar

Eu gosto de dizer que o brincar livre, sem o acesso a telas, é o principal e mais assertivo estímulo na primeira infância. Cabe a você, família, proporcionar estes momentos de qualidade e também quantidade a sua criança . Apoie sempre sua criança, para que ela comece a construir a sua própria auto estima. Dificuldades de aprendizagem podem levar as crianças a muitas frustrações, vibre em cada nova conquista, seja específico nos objetivos que ela precisa alcançar e comemore muito quando acontecer.

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